AQUI, A GLÓRIA

Textos Críticos - Artes Plásticas 

 

É meu primeiro funeral famoso" – disse o coveiro de Pittsburgh, onde Andy Warhol nasceu e foi sepultado (1928-1987). Nem era para menos: nunca mais enterrou ali ninguém tão célebre. Ícone, estrela-guia da Pop-Art, Andy Warhol queria mesmo era brilhar como um popstar – e durante 30 anos foi como poucos centro de atenção dos spot-lights, mesmo quando por trás das câmeras, dirigindo os filmes inaugurais do cinema underground. Desde seus primeiros retratos de Marilyn Monroe em 1962, ele se tornou, de fato, o papa do pop – e nunca mais deixou de ser notícia. Warhol brilha novamente aqui, nesses significativos fragmentos de sua imensa obra, pertencente à coleção Mugrabi. Este é outro marco dos dez anos do Centro Cultural Banco do Brasil.

Movimento surgido em Londres e Nova York entre 1956 e 1966, a Pop-Art transformou a ambientação urbana em motivos inusitados para qualquer coisa que se pensasse como "arte": histórias em quadrinhos, embalagens, ídolos da mídia. Produto da "saciedade" do olhar, transitória e descartável, sexy e glamurosa, ela trabalha com badulaques visuais, com imitações do real, tornando perene o fugaz. E parece virar o mundo de ponta-cabeça, ao sinalizar a cada momento para a perecibilidade dos bens duráveis e a permanência dos não-duráveis. Quando Warhol reproduz latas de sopa em série e/ou tiras de histórias em quadrinhos, sabemos estar diante de obras de arte que têm como fulcro o pastiche da sociedade de consumo e da indústria cultural.

"Minhas imagens são as mesmas, mas ao mesmo tempo são muito diferentes. A vida não é uma série de imagens que mudam enquanto se repetem?". E elas se repetem sempre, como fotogramas extraídos de seus filmes. Não importam os motivos: Warhol trabalha seus silk-screens em cima de fotos já cristalizadas, simulacros à deriva no mar de imagens que a mídia desgastou: ídolos, latas de sopa, refrigerantes – velhos fantasmas domésticos saltando das gôndolas de um absurdo supermercado do espetáculo. "Se você quer saber de Andy Warhol, basta olhar para as superfícies de meus quadros e filmes, que lá estou eu. Não há nada além disso". Apenas mais uma frase de efeito, uma pirueta de um artista desconcertante, insaciável para o "aqui, a glória". Andy Warhol disseminou de tal forma a imagem da América que acabou por ela incorporado. A Nova York daqueles tempos foi em muito a irreverência desse cronista visual de um mundo caduco e em desencontro.

CCBB / Exposição Andy Warhol
12 de outubro a 12 de dezembro de 1999.

 


Ronaldo Werneck