UM NÓ NA GARGANTA

Textos Críticos - Artes Plásticas 

 

O artista Loio-Pérsio percorreu intensa trajetória nos últimos 40 anos, do figurativo ao gráfico, aos “esgrafismos”, como ele quer e sabe colocar sobre a tela de forma precisa. Há quase seis anos sem expor no Rio de Janeiro, isolado e solitário em Nova Almeida, no Espírito Santo, o artista Loio-Pérsio volta à cena com suas tramas & texturas, com suas “contexturas” cromáticas de grande impacto.

O artista Loio-Pérsio trabalha a luz como se dela surgisse. Como se a luminosidade estivesse imantada à própria trama de seu fabrico. A cor parece “saltar” do fundo da tela, no entorno das linhas, num processo às avessas, quase “ilusótico”. Um constante retorno ao fundo cromático que dá forma ao gráfico, num jogo de cor & concisão. Assim, os “esgrafitos” não são aplicados à textura do fundo, mas surgem dele, do fundo de tudo, num processo natural, geométrico, limpo, econômico.

O artista Loio-Pérsio depura a forma pela ascese, constrói sua cor com o coração e a coragem. Com o magma que escorre do cérebro e se torna sólido em sua textura única, no intenso cromatismo que envolve seus “esgrafitos” como se os abraçasse.

O homem Loio-Pérsio Navarro Vieira Magalhães vive na contramão do mercado, das galerias & dos marchands do nada, dos mercadores de simulacros de obras de arte. É sintomático seu auto-isolamento quase ascético exatamente no interior do “Espírito” Santo. E de rara coerência com sua honestidade intelectual.

O homem Loio-Pérsio viajou muito nos últimos 65 anos. Em torno de si, para dentro & para fora, num só impulso & inquietude. De Minas a Curitiba, ao Rio, à Espanha, Alemanha, Londres, Paris-Rio-Vitória-Nova Almeida. E está aqui de novo, o mesmo e surpreendente Loio-Pérsio, sempre pronto para o salto. Maduro & amargo, mas com a consciência limpa de quem tentou. E continua. Simples, sem carência de grandes vôos, como em suas composições atuais.

O homem Loio-Pérsio está aqui como em suas palavras: “desapareceram os sonhos da juventude, substituídos por esta resistência amarga. Antes, às vezes, exibia discretas gravatas. Hoje, uso um nó na garganta. Mas, tenho esperança”.


CCBB / Exposição Loio-Pérsio - Pinturas
02 a 28 de junho de 1992.

Ronaldo Werneck