ARTE-VIDA = PARALELAS

Os desenhos e pinturas desta mostra formam um painel-levantamento que resgata manifestações mais autênticas da arte conceitual nos últimos vinte anos. Sob a óptica irônica de Ivald Granato, está aqui o perfil dos principais movimentos pictóricos das duas recentes décadas. Granato colore esta revisão com a estética do humor. Como ele mesmo diz, “desde que Van Gogh cortou as orelhas, não há mais necessidade de sofrimento. Não temos direito a tanta culpa”.

São fortes as cores de Granato, impregnadas de vida, marcadas por um intenso e sintomático amarelo. Seu ídolo é Picasso, o amarelo remete a Van Gogh – mas o resultado é personalíssimo e traz sempre a marca Granato: a perfeita sincronia espaço-tempo-ritmo através da gestualização rápida, automática. Inquieto, irreverente, polêmico, performático: Ivald Granato é um artista que se entrega à arte com o prazer da vida.

“Poesia e vida minha seguirão sempre paralelas”: a frase-emblema do poeta Mario Faustino cabe como perfeita bandeira para Granato. Nele, arte & vida compõem um projeto único, indissolúvel, total. A pintura é seu natural cotidiano: não por acaso ele confessa às vezes acordar no atelier pensando estar em casa, ou vice-versa, de tal forma a vida se fundiu em arte. Granato tem lastros no cubismo, raízes na arte abstrata dos anos 50. Granato é fauve & conceitual, impressionista-expressionista, grafiteiro, performer, pluralista. Granato é soma e muito mais que isso, é a arte do inesperado através da ironia. Exuberante, ele parece nos dizer a cada momento que a criatividade é o exercício que mais importa. Granato pinta como quem respira. Veloz e impulsivo como sua própria vida.

Granato é a ausência de regras: ele percorre a arte por seus descaminhos exatamente por conhecer os mistérios & artimanhas que ela contém. E cada vez mais sua arte é uma bem-humorada metamorfose das vanguardas com o selo Granato. Criar o tempo todo, em todos os níveis: para ele, pintar é exercitar o ato da criação. Seu caminho é plural & único: Granato é fiel a si mesmo dentro da irônica trajetória de sua meta-pintura. A pluralidade de seu trabalho estimula a curiosidade e reforça a função indagadora da própria arte-vida.

CCBB / Ivald Granato – Pinturas e desenhos
18 de agosto a 20 de setembro de 1992