MOSTRA DE MESTRE

Textos Críticos - Artes Plásticas 

 

Figura de destaque na semana de 22, mestre do modernismo, Victor Brecheret (1894-1955) foi um dos maiores escultores brasileiros, só comparável ao Aleijadinho. Os dois, aliás, nossos únicos escultores de projeção internacional. No entanto, desde a década de 30 os trabalhos de Brecheret não eram expostos no Rio de Janeiro. Assim, essa mostra é um resgate que coincide com a homenagem pelo centenário do artista. Aqui se acham 26 obras em bronze (de 1920 a 1955) e mais de 20 bicos-de-pena – estudos para esses trabalhos e para realizações monumentais expostas em praça pública.

Ele nunca duvidou que a escultura fosse seu caminho, nunca pensou em fazer outra coisa, nunca procurou outras artes – mesmo porque, daltônico, sem poder fixar o vermelho, percebia de forma difusa o cromatismo do mundo à sua volta. A beleza em Brecheret vem de uma luz estranha, que é também sombra e forma. Um modo particular de tornar denso, dar volume a um universo de tons opacos – mas coeso, perfeito e belo em toda a força de sua tridimensionalidade.

Brecheret estava na Europa em 1922, mas suas obras exibidas no Teatro Municipal de São Paulo durante “A Semana” transformaram-se em ícones do modernismo brasileiro. Duas delas estão aqui (“Vitória” e “O Ídolo”) e representam bem o fascínio do artista pelo instável equilíbrio das formas e volume do corpo feminino. São obras-hommage à la Rodin, grande escultor de mulheres.

Com Auguste Rodin, cujos funerais fez questão de assistir em Paris, em 1917, ele descobriu não ser a escultura simples espelho do real, mera mímese. Com Rodin, Brecheret rendeu seu tributo à liberdade. De formas, de expressão – e abriu caminho para o modernismo. Esta exposição é também uma forma de manter viva a sua grandeza.


CCBB / Mostra Victor Brecheret
17 de agosto a 16 de outubro de 1994.

 

Ronaldo Werneck